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Economia Circular: entrevista ao Ministro do Ambiente

DINHEIRO VIVO: 36.000 postos de trabalho (diretos): este é o potencial impacto no emprego de um modelo de economia circular

As empresas, a nível mundial, reconhecem, cada vez mais, que um dos problemas que vão enfrentar a médio/longo prazo está associado à escassez de matérias-primas. Por isso, Matos Fernandes assume que “se persistirmos num modelo linear” – assente na extração de matérias-primas, na produção de bens com base nesses materiais e na eliminação dos mesmos – “vamos ter um futuro que não é de abundância. E, ou os recursos vão ficar muito caros e, com isso, vai haver seriação pelo preço e necessariamente vai haver mais excluídos, ou temos mesmo de fazer outra opção”.

 

Esta “outra opção” é a economia circular em que “não há nenhuma perda de bem-estar, não há nenhuma perda de acesso [a bens], há sim um deixar de ter a sua posse, com ganhos para as empresas, porque podem ter relações de confiança com os seus consumidores. E com ganhos para os consumidores, porque passam apenas a pagar o que usam, sem ter que comprar os bens para terem lá em casa”, explica o ministro João Matos Fernandes. Neste modelo, há assim uma transformação: os consumidores deixam de comprar todos os objetos que utilizam e passam a pagar pela utilização dos mesmos. Berbequins e outro tipo de máquinas que são usadas esporadicamente pelas famílias podem ser alguns dos exemplos.

 

Para as empresas, por outro lado, este modelo requer também uma mudança. Para muitas pode significar deixar de vender concretamente um produto para passar a vender um serviço, mas pode também significar que os produtos passam a ter uma “vida” mais prolongada, passando a haver uma aposta na reparação em caso de avaria, em vez da troca. Matos Fernandes acredita que parte da mudança passa primeiro pelas empresas.”Muitas destas coisas começam no modelo de negócio e na própria conceção dos produtos. O ecodesign é a conceção de produtos preparados para durar mais tempo, para poderem ser reparados e remanufaturados. De uma vez por todas, deixemos de dizer nas nossas casas que avariou o aquecedor, a torradeira e é melhor deitar fora do que mandar arranjar. Isso é um trabalho que começa naturalmente junto de quem fabrica”. Em Portugal, as empresas, diz o ministro do Ambiente, estão conscientes das vantagens que este modelo traz. Embora “não tenho dúvidas nenhumas que há aqui um trabalho a ser feito e que há setores onde isto vai ser mais evidente que em outros”.

 

No ano passado, o Ministério do Ambiente, através do Fundo Ambiental, destinou um milhão de euros para apoiar projetos nesta área. Houve “muitos concorrentes” e o “dinheiro foi todo aplicado”. Por isso, explica Matos Fernandes, “este ano são vários avisos, alguns já fechados, outros a abrir no curto prazo, muito voltados para a indústria” – plásticos, setor da construção e setor público -, mas também para as pessoas e para as comunidades. No total, o governo português, através do Fundo Ambiental, vai disponibilizar este ano 5,35 milhões de euros, sendo que parte dessa verba – 350 mil euros – está destinada ao protocolo com as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) para o desenvolvimento das agendas regionais para a economia circular. A expectativa é que a verba seja distribuída na totalidade até ao final de 2018.

 

No plano para a economia circular, publicado em dezembro do ano passado, o governo aponta que o impacto da concretização de medidas para a economia circular na Europa pode gerar um aumento de 11% do produto interno bruto europeu até 2030. No caso de Portugal, o ministro do Ambiente refere que os efeitos podem sentir-se, nomeadamente, na criação de emprego. “Os números que temos são relativamente conservadores. A nossa expectativa, por exemplo, é da criação de 36 mil empregos diretos a partir da concretização do plano de ação da economia circular” até 2030, avança. “Mas o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (BCSD) pôs cá fora agora um trabalho onde apenas a partir de 32 empresas concluiu que uma fatia muito grande desses 36 mil postos de trabalho podem ser criados muito depressa”.

 

Economia circular. O que a distingue da reciclagem? Para muitos, à primeira vista, a economia circular, e o objetivo de dar uma nova vida aos produtos, pode confundir-se com reciclagem. Ainda assim, os conceitos são diferentes. Matos Fernandes, ministro do Ambiente, explica que “a economia circular é um modelo que regenera recursos em vez de os esgotar”. Mas defende também que é necessário “termos um modelo de economia onde os bens mantenham o seu maior valor económico durante o maior período de tempo possível. Para isso, é preciso fazer muito mais do que reciclar. Reciclar é unir as pontas desta economia linear”. Salientando que a reciclagem “é da maior importância”, o governante considera “é fundamental” que as coisas mudem com este modelo económico. Até porque atualmente apenas 9% das matérias-primas que são extraídas são usadas mais do que uma vez.

 

Fonte: Dinheiro Vivo